3.10.11

A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS PROCESSOS CRIMINAIS – CASOS: COQUEIRO E NARDONI

Achei interessante re-publicar tal artigo.


OBS: Não estou defendendo assassinos, como disseram por aí na mídia, apenas analiso o caso do prisma Jurídico-processual.


------------------------------------------



A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS PROCESSOS CRIMINAIS – CASOS: COQUEIRO E NARDONI


André Souza da Silveira

Manuel da Motta Coqueiro, julgado, condenado à morte pelo judiciário. Alexandre Nardoni, não julgado, condenado pelo povo.

Apesar de não existirem provas suficientes que ensejassem seu enforcamento, Coqueiro, foi vítima de um dos maiores conluios de todos os tempos, em que seus opositores, ou melhor, seus inimigos mortais, fizeram uma tocaia judicial de modo que nem os melhores advogados foram capazes de modificar a opinião de juízes parciais e de pessoas sedentas por “justiça”, mas a justiça de interesses políticos, e não a real justiça, aliás, como ainda acontece hoje em dia.

Isso foi lá em mil oitocentos e cinquenta e cinco, mas não existem tantas diferenças daquela época para hoje, parece impactante mas é verdade, é preciso analisar bem o que acontece nos dias atuais. Temos conhecimento de diversos crimes diariamente, e, como de costume, vemos nos jornais e em outros meios de comunicação a mídia se expressando sobre eles, quase sempre de forma parcial, para impactar seus leitores e criar um sentimento de injustiça, de raiva, um sentimento que faz pensar logo nos acusados, e concluir que ele são os culpados.

Na obra “ A fera de Macabu”, é exposta uma realidade que apesar de se passar há muito tempo atrás, contrasta com atualmente. Na obra ficam claras as nulidades que ocorreram no processo judicial de Motta Coqueiro, claro, pois era a oportunidade de seus inimigos acabarem de uma vez com todas com a sua petulância. E eles aproveitaram. Mas além de manipular o processo judicial, em que os juízes e os delegados eram seus amigos, os opositores de Coqueiro também influenciaram a opinião pública, como por exemplo, o primo de Coqueiro, Julião, que tinha o mesmo sobrenome que ele, modificou seu nome, arrancando o sobrenome que detinha igualitariamente com Manuel da Motta Coqueiro. Isso foi um prato cheio para a mídia, que por si só já acabava com a honra e imagem de Motta Coqueiro.

Atualmente temos alguns casos que chamam especial atenção, tanto pelo impacto moral quanto social que causa nas pessoas, como foi o de Coqueiro, um exemplo disso é o caso “Nardoni”, que decorre da morte de uma indefesa criança, supostamente atirada pela janela de um apartamento em São Paulo. Pois bem, o caso ganhou repercussão nacional, pelo impacto que provocou, e o pai, Alexandre, e a madrasta, Anna Carolina, foram, de cara, os acusados deste bárbaro crime, mas o fato é, não existem provas cabais de que os dois sejam os reais executores, porém a mídia levou a opinião pública a culpar por antecipação os dois acusados, como o caso e Coqueiro, onde mesmo antes de ser preso, já era o culpado do genocídio na fazenda Bananal.

Da mesma forma como o que ocorreu com Coqueiro, erros podem estar sendo utilizados no cenário atual do caso Nardoni. No caso Coqueiro, as testemunhas, informantes e afins, eram pressionadas pela autoridade para que incitassem provas contra Coqueiro, sempre o colocando como real culpado. No caso Nardoni, mais precisamente no que tange as declarações de Alexandre, o pai da menina morta, foram suscitados alguns fatos incontroversos, onde Alexandre acusou os investigadores do caso por não realizarem amplos atos probatórios, ou seja, detiveram-se apenas nas provas que incriminavam-nos, deixando de interrogar prováveis testemunhas do ocorrido, como por exemplo, o zelador do prédio onde moravam, o porteiro, o pedreiro, e além destas acusações, Alexandre acusou dois delegados, que presidiam as investigações, de realizarem um inquérito tendencioso e de forçá-lo a confessar o crime.

É claro verificar o induzimento da opinião pública nestes dois casos, onde no primeiro, o de Coqueiro, os jornais expressavam raiva por ele em suas páginas, deixando a população aterrorizada, sempre citando Coqueiro como o assassino, até mesmo rotulando-o como a Fera de Macabu. No caso Nardoni, a mídia toma mais cuidado com suas declarações, o que era de se esperar devido a evolução da carreira, mas mesmo assim ainda deixa transparecer a parcialidade, como é possível verificar em qualquer site que seja visitado e que trate sobre o tema, o casal Nardoni já é julgado culpado mesmo antes de seu julgamento oficial, pois a opinião pública pressiona a classe política, e, em consequência, a classe política pressiona o judiciário, bem como ocorreu com o caso Coqueiro, onde os interesses políticos e a mídia – virando as pessoas contra Coqueiro – pressionaram o judiciário, que parcialmente definiu a execução injusta de Coqueiro.

Portanto é pacífico aos olhos de qualquer um que a mídia interfere - e muito - na opinião pública, pois o que é passado para as pessoas é o que a mídia quer, e sendo sua parcialidade exposta, as pessoas seguirão o que lhes é mostrado, sem que tenham conhecimento das peculiaridades do outro lado do caso, como ocorreu com Coqueiro, e como está ocorrendo com Nardoni. A justiça deve prevalecer, e os dois lados devem ser mostrados para que isso ocorra.