21.7.10

A SEDE DE VINGANÇA

A SEDE DE VINGANÇA
André Silveira

A sociedade brasileira é humilde, batalhadora, simples, porém, vingativa, pois desconhece a legislação penal e o verdadeiro sentido de Justiça. Ao dizer isso não defendo assassinos, nem meliantes, pelo contrário, digo para reforçar o direito de investigação, pois assim como presos são punidos, temos inocentes sendo enjaulados juntamente com estes.

Inevitavelmente, e infelizmente, todos nós acompanhamos nestes últimos dias o caso envolvendo o suposto assassinato de Eliza Samudio. Não existe pessoa que não esteja por dentro desse caso, já que a mídia não para de veicular dados e relatos, sempre com exclusividade. Mas mesmo assim, não estávamos lá, não vimos o momento do suposto crime, apenas sabemos o que nos é contado. Então eu pergunto: É correto condenar com base em relatos?

Apesar de o caso ainda estar em trâmite, sem provas, sem testemunhas, sem corpo, sabemos que os envolvidos já estão condenados, assim como o casal Nardoni há pouco tempo, que foram condenados por júri popular sem ser provado no processo o homicídio. A mídia condenou.

Na minha opinião, eles – os Nardoni – eram culpados mesmo, é improvável a versão contrária (inocência), mas me pergunto: E se eles não cometeram o crime? Se não conseguiram provar sua inocência diante da esmagadora opinião pública querendo encontrar um culpado para o fato? Colocamos inocentes na cadeia.

E se acontecesse conosco, imagine a situação, você em seu apartamento, com seus filhos dormindo em seus quartos, de repente você vai recolher o jornal na porta, se distrai conversando com um vizinho há alguns metros de seu apartamento, e entra um psicopata, atira seu filho pela janela e sai sem ser visto por ninguém. No processo você não consegue provar sua inocência, sendo induzido a erros. Julgamento: VOCÊ É O ASSASSINO, sem dúvida pegaria no mínimo uns 20 anos de prisão, sendo chamado de assassino por toda população brasileira e ainda com a dor de perder seu filho.

Essa demonstração é trágica, mas faz-se necessária, para demonstrar que é falho nosso sistema penal, que deixa a mídia conduzir os casos de mais impacto, levando ao “grande público” notícias tendenciosas à condenação dos acusados. E não só o sistema penal que é falho neste aspecto, mas a ideologia do nosso povo é assim, quanto mais rápido encontrar um culpado, mais rápido será feita justiça, mesmo que para isso a investigação não aconteça e que o crime não seja provado. Alguém deve pagar.

Pois bem, já sabemos que há acusados, sendo um deles o ex-goleiro do Flamengo, Bruno, e sabemos também que ele já está condenado pela opinião pública, pois existe alguma vez que a mídia pelo menos ventilou sua possível inocência? Com certeza não. O que dá audiência não é a absolvição, é a condenação. O povo quer isso, quer descarregar as infelicidades da vida numa falsa vingança social diante de assassinos, ou supostos assassinos.

Neste caso, e em muitos outros, não importa ao povo guiado pela mídia se temos um inquérito a ser feito, investigações a serem realizadas. O que importa é ver o acusado no fundo das grades, penando, morrendo aos poucos, sentindo na pele o sofrimento de sua “suposta” vítima.

O que fica é a mensagem, de que a sede de vingança não pode ser maior do que a certeza do cometimento do crime, caso contrário estaremos fadados a prisão a cada momento que respiramos. Ao invés de clamarmos pela condenação dos acusados, podemos torcer por uma investigação conclusiva, que absolva o inocente, ou condene o culpado, para que possamos dormir com a cabeça tranqüila, com a certeza da verdadeira justiça.

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