27.12.10

A VIDA E A MORTE - Percepções

A VIDA E A MORTE
André Silveira

Sinto o sol batendo em meus olhos, a claridade é tanta que procuro uma sombra em minhas mãos para ofuscar a luz do astro rei. O vento sopra agressivamente e meus cabelos voam livremente, aproveitando a brisa natural que traz consigo a dúvida. Sinto o tempo passar. Com medo.

Sinto o tempo, mas não consigo explicá-lo, apenas sei que – comparado com o tempo de existência do universo – para mim há pouco tempo nesta existência. Nesta existência. Sinto medo da morte. Mesmo sabendo que tudo que nasce um dia vai morrer.

O ser humano é assim, ele sente medo de viver por ter medo de morrer. Vejo minha vida passar e nada mudar. As pretensões do futuro se acabaram, não realizei o que queria, tive medo de tentar, tive muito, muito medo da morte. Imagina só, ficar sem meus parentes, meus amigos, minha esposa. Sou jovem demais para morrer.

A brisa bate mais uma vez em meu cabelo, sou empurrado pela ventania, como se quisesse me dizer algo. O horizonte está iluminado por distantes raios de sol, que levemente tocam no mar, o sol está se afogando, e me deixando aqui sozinho, com medo. Medo da vida e da morte.

A vida aparece na terra com vestígios de sua criação, mas e a morte? Como ela é capaz de tirar do ser humano uma vida cheia de experiências, como é que isso pode ser possível? Para onde vamos depois? São perguntas bobas, sem resposta compreensível a um humano. E eu sei disso.
A cada segundo que passa a escuridão me cerca, estou aos poucos sendo abraçado pelas forças noturnas, desconhecidas e misteriosas. Posso ver meus pulmões ofegarem, a respiração é difícil, um pânico toma conta de minha alma, estou sozinho no meio do nada, apenas com o vento de companheiro. Não sei para onde ir, nem o que fazer, caso for. Eu tenho medo. Medo de perder o que não tenho.

Tenho medo de morrer e não aproveito minha vida, sei que é besteira fugir dos paradigmas, sei que não existe vida após a morte, sei que ninguém irá me salvar, sei que preciso me preocupar com a morte a todo instante. Preciso estar sempre preparado, em posição de ataque, ou de defesa, sem nunca relaxar. Sem nunca tentar viver, pois para morrer basta estar vivo.

Sinto alívio, este não sou eu, mas poderia ser, caso eu não tivesse a alegria da vida e da morte dentro da minha alma, caso eu sentisse medo de viver e de tentar fazer o que sempre sonhei, caso eu tivesse baixado a cabeça para os traumas e medos os quais passei. A morte é minha companheira, ela está ao meu lado, me alertando que pode me tocar a qualquer momento, então, basta – a mim – viver cada dia como se fosse o último, pois ele pode ser o último, mas isso não me deixa triste, pelo contrário, fico feliz de ainda estar aqui, vivendo a vida e seus mistérios.

Eu vivo cada minuto com a maior intensidade possível, pois ele é único e nunca mais irá voltar. O tempo não é fracionado, então viva o agora sem pensar nos medos do futuro. Viva cada segundo sob a benção da vida.

Ainda estamos aqui.

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